O quadro da sucessão estadual ainda indefinido mantém os acordos em aberto, mas sob a ótica de especialistas e também dos gestores, uma possível separação entre os dois partidos não deve mudar imediatamente a composição da política das gestões no interior.
No atual contexto de disputa pela escolha de quem concorrerá, enquanto o prefeito de Fortaleza, José Sarto, e vereadores fazem movimentações em defesa de Roberto Cláudio, deputados estaduais e prefeitos de outras cidades cearenses têm manifestam a preferência pela pré-candidatura de Izolda Cela. Aliados a nível estadual e formando maioria na base do Governo, as siglas compõem a primeira e segunda maior bancada na Assembleia Legislativa do Ceará (AL-CE). Enquanto o PDT tem 14 deputados, o PT conta com 7 parlamentares.
De acordo com análise, essa composição e a relação dentro do Parlamento Estadual deverá ser o cenário mais afetado, caso haja rompimento.
O entrave entre PT e PDT ocorre ainda às vésperas das Eleições 2022. De um lado, os principais agentes petistas pressionam para que a governadora Izolda Cela (PDT) seja a candidata à reeleição, e de outro, a cúpula pedetista prefere que o indicado seja o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio.
O impasse gera, além do desgaste, uma perspectiva de que, caso não haja um acordo, os dois partidos poderão concorrer já no primeiro turno. O deputado federal e vice-presidente nacional do PT, José Guimarães, chegou a declarar que caso a escolhida não seja Izolda o partido lançará candidato próprio.A possibilidade de rompimento da aliança estadual, no entanto, não deve interferir necessariamente de forma imediata e direta na relação entre prefeitos e vice-prefeitos que governam o interior do Ceará.Para o professor universitário e cientista político Cleyton Monte, essa correlação de forças seria muito mais desgastada no âmbito do Parlamento Estadual, uma vez que o "sentido de partido" nos municípios é "praticamente inexistente".
"As pessoas (no interior) falam muito mais em grupos políticos (...) falam que apoiam ou não o grupo do prefeito, dando nomes às pessoas e famílias. O partido é muito mais um acessório nesse jogo", explica o especialista.
Cleyton Monte atenta ainda para o fato de que, mais importante do que os acordos estaduais, na visão de gestores municipais, é manter a maioria na Câmara de Vereadores. Isso, porque os prefeitos precisam aprovar no Parlamento os projetos de autoria do Executivo. "Um prefeito que, por exemplo, é do PDT e tem aliança com o PT, ele precisa de maioria na Câmara Municipal. Será que vale a pena esse rompimento e perder a maioria?", questiona o especialista.
Apesar disso, diz ainda o professor, é preciso estar atento às possíveis reconfigurações na administração pública nas esferas estadual e municipal.
"É uma questão muito delicada. Rompimento, quando se está falando de máquina administrativa, se está falando de muitos cargos", salienta o professor.
ENFRAQUECIMENTO DA BASE
A cientista política Monalisa Torres, também da Universidade Estadual do Ceará, lança uma discussão que vai para além das consequência de gestão nos municípios.
Para a professora, um possível rompimento da aliança antes das eleições não iria, necessariamente, desestruturar o esquema na administração pública municipal.
Mas, por outro lado, enfraqueceria o grupo governista que, independente de filiação, atuaria nos bastidores com interesses particulares."Se por um acaso essa aliança se romper, eu acho que seria um cenário relativamente difícil, porque o eleitorado do grupo governista se racharia e abriria vantagem para oposição", destaca.
Na visão da especialista, os prefeitos são "os principais cabos eleitorais no interior" e é tarefa dos líderes políticos a nível estadual manter essa base "coesa".
O QUE DIZEM OS GESTORES
Para o prefeito Guilherme Saraiva (PDT), de Barbalha, uma das principais cidades da Região do Cariri, "a ideia" é que ele permaneça com a aliança do vice-prefeito Vevé Siqueira, do PT.
"A gente segue o grupo do ex-governador Camilo Santana (PT) e do (deputado estadual) Fernando Santana (PT), o que o grupo for destinado é o que a gente vai seguir, é a nossa base", argumenta o prefeito.
Em Santana do Acaraú, o prefeito Meu Deus (PT) minimiza a discussão, mas não descarta a possibilidade de um rearranjo na administração caso a aliança se rompa no Estado. O vice-prefeito da cidade é Paulo Braz, do PDT.
"A política é como um jogo, você vai pro campo e para a batalha. Hoje eu to trabalhando para o município, e quem quiser trabalhar, é nesses 45 dias", disse o prefeito.
Diário do Nordeste